ANÁLISE DE TIRINHAS (030): LER MAIS LONGE, VIA TECNOLOGIAS


Creio ter sido Marshall McLuhan o pensador-pioneiro que entendeu serem as tecnologias extensões da mente e do corpo humano. Em seu livro "Os meios de comunicação como extensões do homem", publicado no Brasil pela Editora  Cultrix (1969), esse grande pensador mostrou como, buscando superar as suas limitações no espaço-tempo e pensando em poupar cada vez mais as suas energias, os homens foram inventando recursos e aparelhos cada vez mais sofisticados e complexos. Nestes termos, por exemplo, a roda é uma extensão dos nossos pés, o telefone uma ampliação da nossa fala, uma pinça ou uma enxada ou uma chave de fenda é uma extensão das nossas mãos e assim por diante.

Dentro do universo conceitual macluhaniano, a escrita é uma extensão dos nossos olhos, surgindo, se espraiando com Gutenberg e inaugurando aquilo que McLuhan a Galáxia da Escrita (ou de Gutenberg). Inclusive, para esse autor,  a palavra escrita, "ao privilegiar um sentido único, que é a vista, reduz a capacidade expressiva e comunicativa da experiência subjetiva do mundo, da sua densidade e pluridimensionalidade. Composta por elementos móveis, a escrita determina uma consciência linear, um método de segmentação homogênea, um processo de fragmentação das tarefas cognitivas, um modo de vida repetitivo e uniformizante entre indivíduos singulares". (cf. http://digartmedia.wordpress.com/2010/03/17/a-evolucao-dos-meios-comunicativos-segundo-mcluhan/

Certamente que a escrita virtual, usada na comunicação via internet, talvez não seja tão linear assim, considerando os mecanismos de hiperlinkagem, o que provoca dinamicidade, interatividade e aproximação (no tempo e no espaço) entre dois ou mais leitores ou interlocutores. Acredito que a internet, fruto da chamada revolução elétrica, "esfriou" a escrita, um meio considerado "quente" no âmbito do quadro conceitual criativamente criado por McLuhan.

A tirinha acima mostra Xaxado segurando um longo cabo de enxada a fim de descansar e, ao mesmo tempo, capinar ou revolver a terra. Esse cabo de enxada pode ser tomado como uma maneira (tecnologia) criada por Xaxado para "não fazer tanto esforço" e mesmo assim trabalhar a terra. Além disso, a extensão do cabo permite uma cobertura mais ampla do espaço de terra a ser trabalhado.

Genial essa mensagem do artista Antônio Cedraz, que nos leva a refletir sobre as tantas conquistas tecnológicas por que passamos, de maneira acelerada, nestes últimos 30 anos. Entretanto, lamentavelmente nem todos os brasileiros tiveram e nem ainda têm acesso a essas conquistas que "estendem" os nossos olhos pela escrita (manuscrita, impressa e virtual).





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