ANÁLISE DE TIRINHAS (014): CACÓFATOS

Fonte: Jornal Correio Popular, 02/06/2012

"Por cada"... passei boa parte do meu ginásio tomando o máximo cuidado para não repetir no papel, por escrito, o cacófatos geralmente produzidos na língua oral. A expressa "por cada" (porcada) era um deles e acho que até hoje, mesmo lendo silenciosamente os textos, ainda me policio falando em voz baixinha os textos que escrevo. 

Voltando do Dicionário Houaiss depois um rápida consulta, temos que "cacófato" quer dizer: 1. som feio, desagradável, impróprio ou com sentido equívoco, produzido pela união dos sons de duas ou mais palavras vizinhas; 2. palavra ou expressão obscena, ridícula ou fora de contexto, formada pela sílaba final de uma palavra e pela inicial da seguinte. Eis algumas preciosidades em língua portuguesa, lembrando que fica mais fácil perceber a cacofonia lendo as frases em voz alta:

- Vou-me já

- Muito obrigado pelas honras que me já dão

- Leônidas marca gol de bicicleta. 

- Nenhum segurança havia dado

- Governo confisca gado de fazendas. 

- Usei um pilão de socar alho

- Olha essa fada. 


A tirinha acima é extremamente interessante em termos de cacofonia, pois toma grande escritor português (Luiz de) Camões por "ca-com as mões". Isto gera um efeito humorístico do mais interessantes.

Eis duas historinhas famosas a respeito desse fenômeno:

A pita, ou piteira, para que não conhece, é uma grande erva rosulada aproveitada para extração de fibras. Um famoso governador de Minas Gerais, Benedito Valadares, resolveu certa vez mencionar tal vegetal para engrandecer o seu discurso diante do povo, citando com autoridade:
- Minas, essa terra feliz onde a pita abunda...
Aí um assessor do candidato cutucou-o e cochichou: “Governador, ‘a pita abunda’ é cacófato!” Percebendo a sua gafe, ele resolveu mudar o discurso:
- Minas, essa terra feliz onde abunda a pita!
E assim Valadares entrou para história.

Cacófato, para quem não sabe, é um som desagradável ou obsceno proveniente da união das sílabas finais de uma palavra com as iniciais da seguinte. O célebre Rui Barbosa já cometeu um cacófato famoso em um poema que homenageava a sua amada, dizendo: “...quando ela canta, ela fala; quando ela fala, ela trina.”, chamando a coitada da mulher de latrina.


Ezequiel Theodoro da Silva vem analisando as tirinhas de jornal há mais de 10 anos. Conheça e adquira o seu livro Reflexões sobre leitura via tirinhas de jornal (segunda edição revista e ampliada).




Comentários

Cristiano disse…
Aki em bh tem um programa que a record anuncia assim:

Antes do jornal da record veja o MG no ar...

Falando fica igualzinho: mijei no ar.

kkkk

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