ANÁLISE DE TIRINHAS (011): O FIM DA ESCRITA CURSIVA

Fonte: Folha de São Paulo, 26/07/2011

Das muitas barbaridades que ouvi em tempos recentes, nada se assemelha à decisão de acabar com a escrita manuscrita. Tal decisão partiu de alguns estados norte-americanos, que consideraram a letra de mão uma coisa do passado e sem utilidade no mundo contemporâneo.

A charge acima retrata muito bem o tamanho dessa burrice: o piloto não sabe ler a letra de mão e, por isso mesmo, não vai providenciar o socorro tão ardentemente solicitado pelo náufrago. Um problema básico de falta de comunicação: o sujeito não reconhece o código através do qual a mensagem (socorro) foi produzida!

Retomando o pensamento de Marshall McLuhan, percebemos que os homens criaram extensões de suas mãos ou dedos e inventaram novas formas de escrever. Assim o telégrafo, a máquina de escrever e, agora, o simples "toque" numa tela, levemente assinalando letras prontas para a composição de palavras, frases e textos ou então arrastando páginas para efeito de visualização. Não há como deixar de considerar que essa evolução representa uma imensa conquista humana.

Mas todas as formas de escrever evoluíram da base manuscrita: a mão, com algum instrumento complementar, marcando uma superfície (pedra, barro, papiro, etc) e assim cravando uma ou mais ideias para serem posteriormente lidas. Sendo assim, ainda que a escrita de "toque" esteja mais em moda, atenda aos instrumentos atuais de comunicação do mundo contemporâneo, coloque-se nos critérios de rapidez ou velocidade da vida moderna, etc., ela não é capaz de atender ou superar várias funções da escrita de mão, conforme mostra claramente a charge acima.

Os sistemas e redes de ensino do Brasil não podem cair nessa de achar que a escrita manuscrita não deva ser ensinada pelos professores. Sem dúvida que deve dispor as escritas oriundas dos avanços tecnológicos, talvez utilizadas com mais intensidade ou frequência nos dias de hoje, mas não pode de maneira nenhuma descartar a escrita manuscrita, tomando-a como uma ferramenta obsoleta e sem utilidade para as novas gerações.

Comentários

Olá!

Não só concordo com seu posicionamento, mas também oriento meus alunos a melhorar o traçado das letras cursivas. Hoje alguns alunos qusetionam sobre a letra manuscrita das receitas médicas...

Um grande abraço!

Geisa

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