ANÁLISE DE TIRINHAS (026): LEITURA DA PALAVRA, DA IMAGEM E A INFERÊNCIA

                                                  Fonte: Jornal Correio Popular, Campinas, 07/01/2014

Kenneth S. Goodman, pensador norte-americano, concebe a leitura como um jogo de adivinhação, de natureza psicolinguística. Esquematicamente, ele nos informa que, ao ler, o leitor não utiliza todos os detalhes do texto a fim de produzir sentido, mas que ele (o leitor) reconfigura ou recompõe os elementos existentes no seu repertório a fim de atingir um sentido que lhe pareça coerente.

As pesquisas de Goodman, utilizando a leitura em voz alta por estudantes, mostrou a objetividade de sua teoria: de fato, os leitores, ao acionarem o ato de ler, e guiavam muito mais pelos seus horizontes de expectativas e pelos seus conhecimentos prévios com a escrita, do que pelos pormenores da escrita. A figura abaixo parece mostrar o que acontece durante esse processo. Importante destacar que o leitor aciona INFERÊNCIAS o tempo todo, em maior ou menor número de vezes conforme a circunstância ou situação em que se encontre.


A narrativa visual de Hagar, contida na tirinha aqui escolhida, serve de suporte à caracterização do processo de inferência, misturando a leitura da palavra com imagem e somente imagens. A cena 1 apresenta um diálogo, cujo desfecho/entendimento ocorrem por inferência nas imagens das cenas 2 e 3. Ou seja, o próprio silêncio do personagem nos permite inferir - e entender - que a memória dele falhou ou está falhando.

Importante ainda destacar que o modelo de leitura proposto por Goodman nos permite derivar uma série de proposições para serem pensadas por aqueles que ensinam leitura, dentre as principais:

>  A leitura proficiente não resulta da percepção precisa e da identificação de todos os elementos do texto. 

>  A leitura é um processo seletivo: o leitor, a partir do seu horizonte de expectativa e necessidade, seleciona as pistas mais significativas que o levem à produção do sentido. 

> O sentido resulta das pistas selecionadas pelo leitor, permitindo que ele faça percursos de inferências a partir da própria complexidade do texto e do seu repertório prévio de conhecimentos. 

> Semanticamente falando, o sentido é aquilo que parece consistente ao leitor e, por isso mesmo, nem sempre o mesmo texto pode conduzir ao mesmo sentido junto a leitores diversos. 

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